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O Triângulo das Cuecas: October 2006

Wednesday, October 04, 2006

Incongruências, contradições, calinadas e afins...

Como estudante do curso de Ciências da Comunicação, não poderia deixar de me manter actualizada acerca do que se passa pelo mundo afora e neste "cantinho à beira mar plantado" em particular. O resultado disto é descobrir uma data de situações caricatas na nossa sociedade, atingindo-me como cidadã, como pessoa ou muito simplesmente como falante da língua portuguesa.
Começando pelas menos graves, falo de uma frase muito gira que apareceu em rodapé no Jornal da Noite da RTP "(...)uma centena de 100(...)".
Ora desde que eu me entendo por gente e que falo português, sempre me disseram que uma centena de algo é um conjunto de 100 elementos, sejam eles batatas, pessoas ou qualquer outra coisa que nos aflore à ideia. Mas com esta brilhante frase fiquei seriamente na duvida pois, para ser necessário dizer que era uma centena de 100, se calhar é porque uma centena originalmente não é de 100, mas de 50 ou 200, vamos lá agora nós saber. Quiçá seja até um qualquer número ao critério do que apetecer no momento: "Olha acabei de comer uma centena de 20 bombons e agora dói-me a barriga." Era giro. Boa maneira de espalhar a correcção da língua Lusa.
Deixando de lado os trocadilhos linguísticos, passo agora para os trocadilhos políticos, que esses sim são bem mais graves e bem menos fáceis de resolver.
Decretou-se que irá aumentar a contribuição dos utentes para a ADSE, permitindo esse aumento na "contribuição" que a ADSE arrecade a bonita soma de 103 milhões de euros, a juntar àquele que já era previsto receber.
Isto também é uma coisa muito gira, mas estando a ADSE atulhada em dívidas, eu duvido muito que, mesmo se esses milhões fossem realmente aplicados onde fazem falta, a quantia chegue sequer para resolver metade do problema. Mas o povo, com a sua proverbial boa vontade, lá vai sangrando os bolsos, que "é para o bem de todos, e se tem que ser lá se dá um jeitinho".
Mantendo-me no tema da saúde mas mudando o foco de atenção, indago-me acerca das politiquices referentes às "novas regras" das urgências hospitalares.
Segundo aquilo que a minha inteligência de pertencente à honrosa classe do Zé Povinho me permitiu entender, os senhores politicos, a bem dos cortes orçamentais, da fluidez dos serviços de urgência e dos utentes vão fechar 14 desses mesmos serviços país afora, deixando mais de um milhão de pessoas a mais de 45 minutos do serviço mais próximo. Em contra partida irão abrir mais 25 serviços, a grande maioria deles de urgência básica, ou seja com 2 médicos e dois enfermeiros de serviço 24h por dia e serviço de radiologia e análises básicas. Que mal pareça, alguns dos serviços que se desejam fechar, além de não estarem em mau estado, até são recentes ou então têm serviços especializados, já para não falar de equipamento de suporte caso haja falha de pelo menos um órgão vital, coisa que as tais ditas "urgências básicas" não têm nem virão a ter.
Agora eu ponho aqui algumas perguntas para quem quiser pensar comigo (e quem sabe até responder-me se souber):
-> Se ainda há dias se disse que vão acabar com as horas extraordinárias dos médicos, deixando estes de ter de fazer o horário nocturno, como é que essas urgências terão médicos 24h/dia? Vão pôr as pessoas a viver de noite?
->Se vamos ficar só com urgências básicas, se o problema de um utente for realmente grave e não for imediatamente detectável, como se pode garantir a correcção e a rapidez do diagnóstico visto só haver material básico?
->E mesmo que o problema da pessoa seja patente, se não há equipamento para a tratar (visto ser um serviço básico) de que serve a urgência? É uma pit stop só para dizer que tem que ser transferido para outra unidade (e perder mais tempo precioso)?
->Se as pessoas vão ficar mais longe dos serviços de urgência, muitos dos novos serviços ainda têm que ser projectados e os existentes ainda têm que passar por um processo de reestruturação, quem é que sai a ganhar com isso?
Só para finalizar este enorme post e mantendo-me nas politiquices mas passando para a economia, é talvez de notar que com tantas promessas de possível prosperidade (ou pelo menos de um ligeiro alargar de cinto) com o novo Orçamento de Estado, os aumentos dos funcionários públicos se fiquem por uns irrisórios 1,5%, muito aqém das expectativas e da própria inflação, significando mais uma facada no poder de compra dos portugueses. Gostaria de ver os aumentos que vão receber as pessoas que decidiram o valor destes "aumentos".

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