badge
O Triângulo das Cuecas

Wednesday, April 30, 2008

Fome, Guerra, Ganância...

De acordo com isto estamos a ficar sem maneira de dar de comer a tanta gente.
A parte gira é que a Terra sempre alimentou tudo e todos e sempre chegou perfeitamente. è suposto chegar. É suposto haver espaço para todos nós, assim como é suposti haver alimento para nós e para os que estão por vir tal como já houve para os que cá estiveram.
A parte que não estava nos planos deste maravilhoso planeta era a ganância humana.
Há quem produza, que quer vender, há quem não tenha que quer comprar. Dá-se uma troca de bens e estão as duas partes contentes. O problema é quando há quem produza que quer vender e produza e seja obrigado a comprar, mesmo não querendo. Aí é chato, torna-se desleal e acaba por dar origem a um problema a longo prazo que é o que se está a ver despontar agora no horizonte mundial.
A parte interessante disto tudo é que se cada macaco ficasse no seu galho, ou seja, se ninguém se metesse nos assuntos alheios, isto estava tudo às mil maravilhas (ok, tanto também não, mas certamente estaríamos muito mais perto disso do que estamos actualmente).

Passo a explicar com um exemplo prático: África.
O continente que se tornou, desde o meio do século passado, no alívio das consciências pesadas do mundo inteiro através da criação de um sem-fim de obras de caridade, estaria muito melhor se ninguém do mundo dito "civilizado" tivesse interferido. Não estaria certamente ao nível da Europa nem dos EUA, mas seria certamente capaz de se suster nas próprias pernas. Seria, no entanto, um continente muito diferente do resto do mundo. E isso não é aceitável.
Se em vez de alguém dizer: "Coitadinhos, têm um clima tão rigoroso, e a seca já dura há tanto tempo! Vamos dar-lhes a comida que a nós nos sobra que estamos fazendo uma caridade!" os tivessem deixado em paz, hoje África não teria fome.
Os nativos daquele continente sempre viveram dentro de condições das mais adversas, no entanto há tribos com centenas se não milhares de anos de existência. São sobreviventes, não precisavam da nossa caridade infectada de hipocrisia.
O resultado dessa nossa "caridade" foi o arruinar de economias agrícolas com séculos de existência. Senão vejamos: graças à europeização do mundo que se deu a partir da revolução industrial, todos achámos que tinhamos que ser iguais ou então não éramos nada, e que quem fosse diferente de nós tinha que ser trazido à força para o "bom caminho". Como em África não se conseguiu isso de forma tão eficaz como em outras áreas, como por exemplo a América, foram denominados de "Coitadinhos do Universo". Em resultado disso, os excessos da produção mundial começaram a ser despejados em catadupa para uma civilização (ou um conjunto delas como se preferir olhar para a questão) que não tinha utilidade para a maioria desses produtos. Prejudicial, talvez, mas não grave, fora pelo facto que iria empobrecer ainda mais populações já de si pobres com a criação de necessidades artificiais. No entanto, quando tal começou a acontecer com os alimentos que, ao ser literalmente as nossas "sobras" chegavam lá a um preço muito inferior ao preço de custo dos produzidos localmente, começou a tornar-se um problema, já que os produtores deixaram de conseguir vender o que produziam, abandonando a agricultura. Daí resultou um abandono dos campos e uma dependência imensa das produções dos países desenvolvidos. Neste momento há em África muito quem queira apenas trabalhar nas suas culturas e ganhar com que subsistir. No entanto, graças a todos nós e às nossas ajudas, nada disso é possível.
Graças ao que fazemos ao planeta diariamente o clima está cada vez mais instável, manifestando-se especialmente de forma drástica em áreas onde já de si era agreste, tornando-se impossível discernir os seus ciclos de forma a se poder fazer uma plantação agrícola. Assim somos obrigados a "ajudar".
E "ajudamos" de bom grado, que mais não seja para limparmos a consicência das várias anedotas de somalis e etíopes que contamos ao longo do ano. A piada é que não ajudamos com aquilo de que realmente há necessidade nesses países, como medicamentos eficazes. Aí ajudamos enviando versões de teste, usando populações inteiras como cobaias. Ajudamos com aquilo que eles seriam capazes de produzir por si, alimentando a economia dos grandes "monstros" capitalistas do mundo e aumentando a dependência desses países.
Fora de África, muitos outros países têm sido afectados por acordos forjados por governos poderosos que nada mais vêem que os seus interesses. Obrigando países a abrir as suas economias, liberalizando o comércio, arruina sistemas existentes eficazes, tornando todo um mundo independente dependente de uns poucos países. Assim como querem que haja alimentos para todos, se uns poucos estão carregados com o peso da fome do mundo? Terrenos não cultivados acabam por se tornar bravios passado algum tempo, desfazendo tudo o que neles tinha sido conseguido com tanto trabalho árduo.
Deixem o capitalismo de lado, deixem que os países se ergam nas suas pernas e no seu orgulho, "ensinem a pescar" em vez de "dar o peixe". Certamente que daí surgirão propostas de negócio muito mais saudáveis, porque não são parasitas.
É isso ou a 3a Guerra Mundial vai ser por causa de um copo de água e será feita por esqueletos lutando em pó de terra em vez de chão.

Tuesday, April 29, 2008

"O Homem que foi para a América para fugir da própria Sombra" II

A memória fez o tempo recuar mais de vinte anos, até à criança que um dia fora. De repente o homem era o menino sentado no colo da avó, lambendo manteiga dos dedos depois de um lanche preparado com carinho.
As tardes passadas na casa dos avós sempre foram das suas melhores recordações de infância, onde brincava e mais tarde onde curava as feridas quando vinha da escola, entre os beijos e mimos da avó e as palavras sábias do avô, mais ausente que presente e cujas frases muitas vezes eram ditadas por uma sabedoria Bêbeda de vinho carrascão da tasca da esquina.
Desde cedo começaram os seus problemas com os colegas, primeiro no infantário, mais tarde na escola. Sempre sociável, entabulava conversa com facilidade com os outros meninos. No entanto, o seu estilo mais adulto de conversar rapidamente o destacava dos seus colegas, que o catalogavam como um indivíduo à parte, diferente dos demais.
Entre crianças, seres puros mas ao mesmo tempo incrivelmente cruéis na sua pureza, tudo o que é diferente e estranho não é aceite.
Foi assim que, com tenra idade, conheceu o significado da palavra rejeição e sentiu, na carne e na alma, a dor que ela provoca.
Essa casa dos seus avós foi o seu primeiro refúgio, onde lambia as feridas e limpava as lágrimas antes de se apresentar aos pais, porque "um homem não chora" e "tem que ser forte". Então ele para o mundo não choraria e seria um homem. Punha então na cara o sorriso e na mente as piadas com que se apresentaria mais tarde aos pais, alegre palhaço triste. Dentro ficava o menino, abandonado sem o ser, sem saber quando existir.
Foram assim os seus primeiros anos de escola, escondendo-se e aprendendo aos poucos a lutar e a defender-se com unhas, dentes e o que mais estivesse à mão.
Tinha, no entanto, na rua dos avós aquele que considerava o seu melhor amigo, a quem por vezes chamara irmão.
João tinha um humor muito peculiar, sarcástico, por vezes mordaz demais para uma criança. No entanto o menino achava-o estranhamete parecido a si próprio, pois ambos partilhavam o interesse por história, ciências e música. Amizade iniciada cedo, quase desde o berço, era aquele para quem o menino se voltava quando precisava de um amigo de brincadeiras ou confidências. Os dois anos de diferença não impediam João de ser o líder, apesar de mais novo, e o menino seguia-o cegamente.
O homem do presente lamentava o menino do passado, o início silencioso da sua derrocada como ser humano. Se ele soubesse...
Quantas vezes não tinha o homem, ao ler os seus livros de fantasia repletos de magos em reinos distantes, desejado ter a hipótese de mudar o passado, de voltar atrás no tempo e ensinar à criança que fora a experiência do homem que hoje era. Quantas vezes...
Tantas noites que, perdido entre pesadelos, não acorara com a súbita vontade de se esbofetear, mutilar, de alguma forma se castigar pela pessoa em que se tornara.
Não. Não podia, não queria pensar nisso neste momento. Já era mau demais o sentimento constante de falhanço que impunha a si mesmo, a constante flagelação mental e reclusão social.
- Por hoje chega, - disse o homem em voz alta para si mesmo - por hoje basta. E com estas palavras desligou o monitor e aconchegou-se no seu frio, tentando aquecer a alma com cobertores.

Thursday, April 24, 2008

"O Homem que foi para a América para fugir da própria Sombra" I


A noite estava fria e chuvosa lá fora, num Inverno não muito rigoroso para os demais, mas gélido para ele.
Não importava quantos cobertores tinha sobre si, que o aquecedor estivesse no máximo e que o seu pijama fosse digno de uma expedição ao Pólo Norte, o frio não o abandonava.
Deitado na sua cama, contemplando a chuva que caía na vidraça e brilhava com as cores das luzes da cidade, o homem pensava e tremia, com um gelo que lhe vinha da alma e lhe inundava o sangue.
Ele já tivera tudo. Ele já se sentira no topo do mundo, Hércules entre comuns mortais, pilar de apoio para tantos... No entanto, tal como o herói que tanto fez durante os seus trabalhos, também ele, constatava agora, se encontrava destroçado por dentro.
A tragédia, via ele finalmente, foi que nuca antes perdera um segundo a ponderar o caminho que percorria.
Ambos, homem e herói, caminhavam com pesar. Mas enquanto um sabia e sofria, o outro ignorava e andava.
Já a sua mãe lhe dizia: "Até um cego encontra melhor o seu caminho que um estouvado". Ali no seu quarto, pensando e tremendo, chegou à conclusão que esse seria o nome adequado para o que ele fora e ainda era no presente: um estouvado.
Desperdiçando os melhores anos da sua vida, estragando todas as oportunidades que teve de ser alguém, confiando nas pessoas erradas e finalmente não confiando em ninguém... Eis como ele tinha chegado à sua presente situação: sozinho, num local estranho, reflectindo na vida sem saber de onde viria a sua próxima refeição mas, pior que tudo, com demasiada vergonha de si mesmo para se achar digno de merecer a ajuda fosse de quem fosse.
A luz do computador tinha um estranho brilho, reflectindo a luminosidade do ecrã nas paredes e fazendo-o lembrar de casa, do seu quarto e de como essa mesma luz se costumava reflectir nessas paredes, tão familiares e agora tão distantes.
Parecia ter passado uma vida... Quando ele olhava para trás e recordava tudo o que fez, tudo aquilo por que passou, via que tinha sido realmente uma vida. A sua vida, que lhe passou diante dos olhos e escorreu entre os dedos antes que ele tivesse coragem de fechar o punho.
Agora era demasiado tarde. E com esste pensamento de lamento e dor refugiava-se uma vez mais na sua cobardia.
«Ainda bem que aqui não há ninguém que me conheça» - pensava o homem nos seus piores momentos. O que diriam os seus amigos, não aqueles que ele quisera por força convencer-se que eram seus amigos, mas os únicos que realmente o tinham sido e que ele empurrara para fora da sua vida, se o visse nesses momentos.
Alguns, aqueles que ele mais magoou com os seus comportamentos, as suas palavras e a sua indiferença, provavelmente diriam que foi bem feito, que foi esse o caminho que ele escolheu.
Outros, os que o conheciam melhor, talvez lamentassem e lhe perguntassem como poderiam ajudar, com olhares de pena mas braços abertos.
Os seus pais... ele não sabia como seria se os visse. Talvez o recriminassem (algo que ele sabia que merecia), talvez o repudiassem (algo que ele temia embora no fundo não acreditasse que acontecesse), ou talvez o recebessem com lágrimas nos olhos e amor incondicional pelo filho pródigo que tornava a casa depois de tanto tempo perdido.
Era talvez este o pensamento que mais lhe doía, que aqueles que ele mais culpava pelo seu exílio fossem os primeiros a o perdoar pelos seus erros.
Custava-lhe compreender como levou tantos anos para parar e pensar. Honestamente,ele sabia o porquê da demora. A cobardia de colocar o dedo na ferida foi o que o impediu, durante tantos anos, de ver o caminho que fazia. Desde criança...

Labels:

Amanhã é Feriado...


Mas não digo qual, porque quer-me cá parecer que toda a gente já esqueceu qual o seu verdadeiro significado, ou então não deixaríamos as coisas chegar ao "Estado" em que estão.
O que hoje são cravos e músicas do Zeca Afonso já foi um dia Liberdade...

Estranho...

Será estranho, numa altura em que toda a gente quer emprego eu ter uma tremendíssima vontade de largar o meu e tirar umas férias indefinidas?

Labels:

Wednesday, April 23, 2008

Não Há Nada a Fazer ou a Gaita do País que Temos


Bem, como finalista de uma licenciatura, não poderiam deixar de me preocupar temas tais como a precaridade no trabalho e os bons dos recibos verdes (porque sim, já por duas vezes que me falam neles como se fossem o Santo Graal de quem trabalha).

Noves fora o facto de estar a fazer figas por um emprego que não tenho a certeza se terei, ainda tenho a acrescer a isto tudo o resto de maravilhosas condições em que este país se encontra.

Governo não há, porque eu pelo menos não considero despotismo uma forma de governar. Oposição não se viu nem se vê.

Propostas de jeito poucas ou nenhumas, e sempre votadas de acordo com os interesses de alguém em vez da população.

Mas isto tudo já nós sabemos, e sabemos também que há tanta hipótese de isto melhorar como de termos reformas para quem se aposentar daqui a 10 anos.

Agora o que me chateia é que ninguém se queira mexer para fazer seja o que for. Os jovens labutam como podem (ou não podem) de acordo com as possibilidades que têm (ou não têm).

As crianças do país, futuro da nação, têm aparentemente para a sociedade valor de consumo, não valor humano.

Os idosos não estão pior porque dos que estão mesmo mal nem nós, público comum, sabemos.
É interessante ver cair as máscaras, os valores, as virtudes e os baluartes que por tanto tempo guiaram o mundo e as civilizações como coisas inúteis da colecção Primavera -Verão do ano passado.

Somos todos enrolados pelas vontades de muitos, já que pensar diferente tem umpreço muito alto para alguns o poderem suportar.

Agora atiram o osso... quando virmos o veneno de rato dentro do tutano já será tarde demais...

Labels: ,

Monday, October 08, 2007

A Polémica de José Sócrates ou a morte do 25 de Abril (assim... aos pouquinhos)

A polémica há muito que estava instalada, simplesmente não era visível.
Desde que Sócrates começou a governar que se nota uma crescente manipulação, chamemos-lhe assim, de alguns órgãos de comunicação social em favor do actual governo.
Ao que parece essa circunstância (censura para os amigos) está a alargar-se a cada vez mais esferas da vida portuguesa.
Depois dos vergonhosos mandos e desmandos do actual executivo no poder, que tem a maravilhosa coragem de dizer que o desemprego efectivamente diminuiu quando temos uma das mais altas taxas de desemprego da europa, temos agora a polémica das manifestações.
Após ter acusado o PCP de estar por detrás da maioria das manifestações contra si e o seu governo (porque sim, o fantasma do comunismo continua a ser um problema, apesar de já termos passado uns anos jeitosos fora do fascismo), como se por acaso fora os comunistas todo o resto da população do país estivesse delirante com o mar de rosas que tem sido o trabalho deste governo, vemos agora a PSP a fiscalizar as manifestações que os sindicatos pretendem levar a cabo, "avisando para o uso de linguagem ofensiva".
Quer dizer, num país em que impera a liberdade de expressão (ou pelo menos imperava, já não sei bem), supostamente não devem verificar-se situações destas, não sei, digo eu. Daqui a pouco temos a PSP a avisar o pessoal todo, tipo "Nós só vimos avisar que devem cantar o hino e jurar a bandeira, porque senão há consequências, mas nós tamos só a avisar hã!"
Eu por mim acho muito bem que seja feita uma investigação devida a esta situação, agora só quero saber é se esta investigação irá servir para descobrir os verdadeiros propósitos da visita da PSP à sede do sindicato ou se irá antes procurar quem foi o marmelo que não foi capaz de camuflar a operação como deve ser...

Labels:

Friday, September 28, 2007

Bola, putas e vinho verde...

Bem, de volta ao mundo dos blogues após uma ausência nada cortês, deparo-me com um assunto que me obrigou a fazer o gosto ao dedo...
Num país que está enterrado até ao maior cabelo que tem na cabeça em problemas vários, que vão desde o défice ao aumento dos impostos e à retirada de regalias aos deficientes por parte do estado, tudo em prol da boa gestão de fundos, o panorama apresentado pelos vários serviços noticiosos nacionais é de levar qualquer ser com metade de um amendoim a fazer de cérebro às lágrimas.
As notícias que deveriam ser apresentadas, mostrando aos portugueses os problemas vários e mostrando as iniciativas que estão sendo tomadas pelos orgãos de gestão do país para os resolver, têm um destaque mínimo na comunicação social, já para não falar que cada vez são mais desanimadoras e menos objectivas, dando a ideia ora que estamos todos muito mal, ora que vai tudo muito bem, mas não dando nenhuma notícia ou informação em concreto.
Quando se pretende comentar e avaliar a crise no único partido de oposição significativo do país, o único que neste momento se encontra em posição de fazer frente ao governo vigente, corta-se a palavra ao comentador porque é necessário ver as costas de um treinador de futebol a entrar num carro.
No entanto, fala-se de uma miúda inglesa que desapareceu há mais de quatro meses, sobre a qual não há nem notícias nem certezas, pelo menos uma vez em cada serviço noticioso em blocos de no mínimo 5 minutos, recheados de factos que já foram deturpados de toda a maneira e feitio e de conjecturas que têm tanto de verdade como a teoria medieval segundo a qual a terra era um prato.
Dá-se uma importância enorme às orgias de um jogador de futebol, só faltando descrever com a ajuda de gráficos os actos levados a cabo durante a noite de rambóia da criatura.
Mostra-se as costas de um treinador de futebol que só de pisar chão luso merece um destaque em directo num canal noticioso.
Confirma-se a teoria que Portugal é um país onde imperam a bola, as putas e o vinho verde...

Labels: ,

Friday, June 15, 2007

Haja Paciência!

É só para informar que devido a acontecimentos que se tÊm vindo a arrastar ao longo do tempo perdi por completo a paciência para blogs.
Quando esta voltar farei questão de continuar a escrever por aqui.
Por enquanto, está definitivamente encerrado

Labels: